Linhas de pesquisa

RESOLUÇÃO Nº 220-CPOS/PSI/FACH/UFMS, DE 20 DE ABRIL DE 2022.

A    PRESIDENTE    DO    COLEGIADO DE CURSO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA – CURSO DE MESTRADO da    Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no uso de suas atribuições legais, e de acordo  com  a PORTARIA Nº 1.867, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2019,  do  REITOR DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, Ad referendum, resolve:

Art. 1º  Aprova as linhas de pesquisa, a saber: LINHA 1 – Linha de Pesquisa: Psicologia: Fundamentos teóricos e metodológicos e LINHA 2  – Processos Psicológicos e suas Dimensões Socioculturais.

ANEXO 1:

LINHA 1 – L1 Linha de Pesquisa: Psicologia: Fundamentos teóricos e metodológicos

DESCRIÇÃO DA LINHA

Ementa e caracterização

Fundamentos históricos e epistemológicos em psicologia. Métodos, medidas e processos individuais, grupais, intergrupais, atitudinais, de aprendizagem, comportamentais, cognitivos, culturais e sociais.

Corpo Docente

– Prof. Dr. Alexandre Peres

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4285182104143757

– Profª. Dra Ana Karla S Soares

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/0755911963095862

– Prof. Dr. Antônio Carlos do Nascimento Osório

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/3080516750236752

– Prof. Dr. David Victor-Emmanuel Tauro

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/9372336262542352

– Profª. Dra. Inara Barbosa leão

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/0923917203922621

Prof. Dr. Lucas Ferraz Córdova

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/9946574378892407

Prof. Dr. Weiny César Freitas Pinto

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1411304686102041

JUSTIFICATIVA:

Toda explicação de um dado fenômeno, independente da área do conhecimento (ciência, filosofia, senso comum), busca explicitar relação entre o fenômeno em questão e alguma outra coisa. “Fiz porque quis”, “Vou ao cinema ver o filme que me falaram que é bom”, “Bateu por ser agressivo”, essas afirmações apontam o comportamento como explicado a partir da identificação de eventos que justificariam a sua ocorrência. Normalmente, a explicação de um fenômeno A é posta como: A porque B ou A quando B ou ainda A se B. Assim, uma determinada ocorrência estaria explicada na medida em que é posta em uma relação. Em explicações denominadas de científicas esse objetivo se torna mais evidente, já que em tal empreitada, maneiras, em termos técnicos métodos de investigação, para buscar tais relações foram elaboradas visando a sua explicitação da forma mais precisa e generalizável possível.

Métodos de pesquisa, seja de coleta ou de análise de dados, buscam tornar evidentes relações entre objeto estudo e mundo, permitindo incorporar os novos achados ao corpo de conhecimento já estabelecido. Assim, os métodos de pesquisa devem se alinhar tanto aos objetivos da pesquisa, mas também a todo o arcabouço teórico que permitirá dar sentido aos dados encontrados. Compreender as estratégias usadas para se formular conhecimento científico sobre um determinado assunto permite ao pesquisador uma compreensão mais aprofundada do seu tema de pesquisa.Uma estratégia metanalítica é de suma importância para se estabelecer uma postura critica frente ao conhecimento.

O projeto constitui-se na integração de referenciais e métodos utilizados pelos pesquisadores da linha, conforme segue abaixo.

A análise do discurso na análise do comportamento

A proposta de Skinner (1957/1978) para comportamento verbal é o entendimento deste como comportamento operante, mediado por um ouvinte treinado por uma comunidade verbal. São vários os desdobramentos desses pressupostos em diferentes campos de atuação e dentre eles encontra-se  a análise comportamental do discurso (ACD) (Borloti, Iglesias, Dalvi, & Silva, 2008; Borloti, 2004; Dougher, 1989; Leigland, 1989). O discurso é, nesse campo científico, definido funcionalmente, ou seja, como um conjunto de operantes verbais com certas propriedades, emitido em um determinado contexto e sob controle de determinada audiência. Borloti, Iglesias, Dalvi& Silva (2008) resumem algumas das características:

. . . o discurso é o interesse do analista comportamental na ACD, 2) o discurso é determinado por contingências (passadas e atuais), 3) o discurso é um dado empírico e 4) sua análise se afasta da metafísica. Portanto, 5) a ACD é um procedimento de uma ciência natural que se propõe a prever e a controlar o discurso. (Borloti et al., 2008, p. 104)

A ACD mantém, assim, coerência com os princípios do behaviorismo radical, já que são as relações de controle que dão significado ao discurso. Por essa razão, na ACD, prioriza-se a análise histórica como chave de compreensão de uma emissão verbal. A ACD adota, então, como ferramenta interpretativa, a análise funcional do discurso, buscando conhecer quais as relações que controlam o falar (Borloti et al., 2008). Em contato com o discurso, o analista deve buscar descrever os antecedentes e consequentes de uma emissão qualquer e buscar categorizar tais emissões utilizando os operantes verbais descritos por Skinner (1957/1978). Esse é o método tradicionalmente utilizado pelos analistas do comportamento na análise do discurso. Buscando trazer novos elementos à maneira de se analisar discursos sob um viés analítico-comportamental, encontra-se o trabalho desenvolvido por Willard Day Jr conhecido como Método Reno.

O Método Reno buscou, influenciado pelo movimento filosófico da Hermenêutica e pela Fenomenologia (Dougher, 1989), inter-relacionar o método experimental e o método interpretativo na análise dos dados e fortalecer a visão de que a interpretação é uma atividade essencial do behaviorista radical (Kohlenberg&Tsai, 1991/2001). Há, portanto, a busca pela superação da dicotomia sujeito-objeto na compreensão de um determinado fenômeno e é prioritariamente nesse sentido que se percebe uma aproximação entre os objetivos do behaviorismo radical e da fenomenologia (Day, 1969). O que se espera é entender determinado comportamento, verbal ou não, a partir da relação indivíduo-ambiente, buscando explicitar as fontes de controle sobre o comportamento emitido. A fenomenologia busca o significado da ação para o sujeito e o behaviorismo radical também. O behaviorista radical, todavia, o faz por meio da análise funcional. Não se quer dizer, com isso, que o contexto social está excluído da análise. Entende-se, antes, que ele fica evidenciado na ação do indivíduo, que foi previamente exposto às contingências estabelecidas por uma comunidade que selecionou determinados comportamentos.

A comunidade verbal atua estabelecendo as regras de ação para o indivíduo (Abib, 1994) e para entender o significado de uma ação qualquer, faz-se necessário entender a história de exposição às contingências a que ele foi submetido. Assim, na pesquisa experimental que utiliza como ferramenta metodológica o Método Reno, espera-se manipular uma variável antecedente qualquer, de acordo com os objetivos da pesquisa a ser desenvolvida, e observar como o sujeito de pesquisa responde, de forma pouco orientada e sem sugestão de respostas, diante do estímulo apresentado

Métodos de pesquisa na análise quantitativa e qualitativa

A pesquisa científica em psicologia, assim como em outras áreas da ciência, começa com o interesse do pesquisador por algum aspecto do mundo ao redor. Em seguida, busca-se identificar os fenômenos relevantes ao assunto estudado e com base no conhecimento existente, inter-relacionam estes fenômenos em uma rede de ralações causais; quais elementos causam ou influenciam os outros elementos. Deste modo, é necessário proceder a análise de dados coletados e testar hipóteses empiricamente (Babbie, 2001). Deste modo, umas das formas mais importantes e eficazes de facilitar e de promover a discussão crítica das teorias é o apelo à observação, à experiência e à medição, visto que a análise de uma teoria a fim de considerar sua adequação envolve observações ou medições. Para Popper a função da observação, experiência ou medições é modesta, embora importante, pois auxilia a crítica; a descoberta de nossos erros (Popper, 1996).

Diante destas considerações, pode-se afirmar que os recursos para análise de teorias são empregar ferramentas metodológicas de fundamental importância para a pesquisa em psicologia, ou seja, para o teste de hipóteses destas teorias. Assim, visto que o interesse geral na psicologia envolve analisar uma determinada variável no decorrer do tempo, por meio tanto de pesquisas longitudinais ou transversais (Flick, 2012).

Richardson (1999) afirma que há dois grandes métodos de pesquisa: quantitativa e qualitativa. Estes diferem não só na sua sistemática, mas principalmente pela forma como abordam o problema. Assim, interessa o aspecto da quantidade versus qualidade na metodologia da pesquisa psicológica, e especificamente aqui será abordada a pesquisa quantitativa, ou seja, aquela que prevê a mensuração das variáveis pré-determinadas, visando verificar sua existência, relação ou influência sobre outra variável. Quando se faz uma pesquisa quantitativa se está buscando estabelecer uma regra, algo que expresse a regularidade do fenômeno ou parte dele, ou seja, o que interessa é o que é comum à maioria das situações. Enquanto que a pesquisa qualitativa parte da realidade social na sua complexidade e totalidade quantitativa e qualitativa e depois constrói métodos para captá-la e transformá-la.

Diante das diferentes características apresentadas por cada método e em virtude da multiplicidade de temáticas abarcadas pela Psicologia, faz-se importante discutir os aspectos práticos de aplicação de cada método nos estudos desenvolvidos na presente linha de pesquisa.

Métodos de pesquisa na análise da linguagem e institucionalização do sujeito

Enquanto um dos eixos temáticos deste estudo visa aprofundar aspectos relacionados as bases epistemológicas que dão sustentação ao campo da psicologia numa leitura pelos referenciais Foucaultianos das diferentes tendências que compõe seu arsenal de saberes, colocando em jogo os métodos de pesquisa na análise da linguagem e institucionalização do sujeito, o que requer inicialmente, enfatizar que a constituição do sujeito, enquanto fruto das práticas sociais operadas por determinantes culturais, a partir de imposições que lhe são exteriores, sendo compreendido como um produto das relações de saber e de poder, em jogos de verdades..

Neste sentido, o sujeito é constituído a partir de relações intersubjetivas em que há espaço para a manifestação da liberdade que possibilita a criação de si mesmo como um sujeito livre e autônomo.

Nada tão simples ou fácil, já que ele é constantemente submetido a tensões nas práticas de si – subjetivações/subjetividades versos objetividades/comportamentos compondo a estrita relação – governo de si e dos outros, verdades e práticas. Michel Foucault busca compreender os discursos em que o próprio sujeito é colocado como objeto de saber possível (sujeitados) e compreender quais são, diz Foucault, “os processos de subjetivação e de objetivação que fazem com que o sujeito possa se tornar, na qualidade de sujeito, objeto de conhecimento.” (FOUCAULT, 2004, A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: Ética, sexualidade e política, (FOUCAULT, 2004, p. 236).

Os chamados processos de subjetivação referem-se às relações que são definidas de si consigo, nesse caso, aos modos como o próprio sujeito possa ser ou não legítimo de determinado tipo de conhecimento, pelos diferentes sistemas binários de seleção social, normal ou anormal, por exemplo. Neste sentido, o sujeito percebe a si mesmo na relação sujeito-objeto. Os processos de objetivação, por sua vez, dizem respeito ao modo como o sujeito pôde se tornar um objeto para o conhecimento. Portanto, a objetivação e a subjetivação são, portanto, processos complementares que se relacionam por meio do que Foucault resolveu chamar de jogos de verdade.

Por jogos de verdade o autor indica que “não a descoberta das coisas verdadeiras, mas as regras segundo as quais, a respeito de certas coisas, aquilo que um sujeito pode dizer decorre da questão do verdadeiro e do falso” (FOUCAULT, 2004, p.235).

Isso significa dizer que os jogos de verdade são os modos pelos quais os discursos podem ou não se tornar verdadeiros de acordo com as circunstâncias em que são ditos; a maneira pela qual um determinado tipo de objeto se relaciona com o sujeito.

No caso do aparecimento das ciências humanas deparamo-nos com práticas discursivas em que o sujeito torna-se o objeto privilegiado de investigação e de discursos que podem ser verdadeiros ou falsos.

Temos deste modo, o sujeito compreendido como objeto de conhecimento e, ao mesmo tempo, sujeito detentor deste conhecimento. Todavia, parece que Foucault, ao examinar a relação entre os jogos de verdade e a objetivação do sujeito nas ciências humanas, foi conduzido às relações de poder, já que na sociedade os discursos das ciências humanas funcionam não apenas como práticas discursivas, mas, sobretudo, como práticas coercitivas. Perceber esta relação entre poder e saber com vistas ao sujeito exige uma reformulação da dos estudos sobre o sujeito, qual seja: não mais examinar como os discursos das ciências humanas galgaram ao estatuto de verdade, mas refletir sobre as condições históricas, políticas e econômicas que possibilitaram seu surgimento e avançar sobre as práticas sociais sobre seus determinantes culturais.

Creio e adoto como princípio que as análises dos saberes são complementares as articulações entre os discursos de verdade e as práticas sociais e institucionais, isto é, compreender como os saberes tornam-se dispositivos políticos que auxiliam os mecanismos de poder.

A preocupação de Foucault volta-se, então, para os efeitos coercitivos das práticas discursivas e das práticas institucionais, que funcionam em uma dinâmica circular em que a mecânica do poder reclama os efeitos de verdades e domínios.

Todavia, deve-se ter cautela em afirmar que o sujeito é um efeito das relações de poder e das relações de saber não significa que ele está submetido a uma força incontornável que predispõe os acontecimentos.

Poder-se-ia pensar que falar em sujeitos livres seria uma contradição em termos, já que sujeito é aquele que está sendo sujeitado, contudo, para Foucault, mesmo sendo sujeitados os indivíduos possuem um campo de possibilidade para várias condutas e diversos comportamentos e ai introduzindo elementos das linguagens, enunciados e discursos.

Desse modo, o sujeito é livre, pois “se há relações de poder em todo o campo social, é porque há liberdade em todo lugar”, logo o poder só pode se exercer sobre sujeitos livres e na medida em que são livres (FOUCAULT, 2010, p. 234).

São poderes compreendidos como uma relação de forças, eles só podem se exercercidos sobre algo que é livre, pois, se não houvesse possibilidade de resistência e de reação não seria necessário as tentativas do exercício de poderes, já que nada poderia ser diferente do que já é.

Contudo, nos últimos escritos de Foucault ocorre um deslocamento: não é mais o caso de se falar de técnicas de individuação ou de técnicas de sujeição, mas da constituição de um sujeito ativo e autônomo. A relação do sujeito com os jogos de verdade não está sendo mais pensada a partir de uma prática coercitiva, mas a partir de uma prática de autoformação desse sujeito.

Foucault ocupa-se com as relações intersubjetivas voltadas para um exercício sobre si mesmo por meio do qual se busca o seu modo de ser e pelo qual se exerce a liberdade. Isso quer dizer que a partir de um exercício sobre si mesmo, do governo de si, do controle de apetites e de domesticação de afetos, o sujeito escolhe seu modo de ser e a maneira como pretende se portar.

É uma maneira ativa de o indivíduo constituir a parte mais secreta de sua subjetividade, compreendendo por subjetividade “a maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo” (FOUCAULT, 2004, p. 236).

Temos, assim, de forma geral, o movimento do sujeito no interior da obra de Foucault: primeiramente, o sujeito objetivado nas ciências humanas, depois temos o sujeito como produto das relações de poder e, por fim, encontramos o sujeito livre e capaz de constituir a si mesmo.

A história contínua é o correlato indispensável à função fundadora do sujeito: a garantia de que tudo que lhe escapou poderá ser devolvido; a certeza de que o tempo nada dispersará sem reconstituí-lo em uma unidade recomposta; a promessa de que o sujeito poderá, um dia – sob a forma da consciência histórica -, se apropriar, novamente, de todas essas coisas mantidas a distância pela diferença, restaurar seu domínio sobre elas e encontrar o que se pode chamar sua morada.

Fazer da análise histórica do discurso contínuo e fazer da consciência humana o sujeito originário de todo o devir e de toda prática são as duas faces de um mesmo sistema de pensamento. Todo o discurso tem origem num enunciado e é sempre um acontecimento que nem a língua, nem o sentido podem esgotar inteiramente.

Trata-se de um acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado, de um lado, a um gesto de escrita ou à articulação de uma palavra, mas, por outro lado, abre para si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de qualquer forma de registro; em seguida, porque é único como todo acontecimento, mas está aberto à repetição, à transformação, à reativação; finalmente, porque está ligado não apenas a situações que o provocam, e a consequências por ele ocasionadas, mas, ao mesmo tempo, e segundo uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o precedem e o seguem (FOUCAULT, 1969, p.31 e 32).

Métodos de pesquisa extraídos da discussão sobre o inconsciente

Este eixo do projeto consistirá no desenvolvimento de pesquisa teórica sobre os fundamentos históricos e epistemológicos da psicologia, levando em conta especialmente os métodos aplicados na recepção filosófica da psicanálise.

O problema central a ser pesquisado interroga em que medida a vasta e variada literatura filosófica sobre a psicanálise pode contribuir para o esclarecimento e a solução do problema da produção do conhecimento em psicologia.

A hipótese geral de trabalho é a de que a ampla e aprofundada recepção filosófica da psicanálise, tendo se desenvolvido há mais de um século, em todas as principais tradições da filosofia contemporânea, produziu um variado campo de pesquisa teórica, do qual se pode extrair significativas contribuições metodológicas – métodos de pesquisa –, para investigar não apenas o problema epistemológico da psicologia e da psicanálise, mas também o das ciências humanas em geral.

Caso essa hipótese seja comprovada, a tese que daí decorre pode ser enunciada nos seguintes termos: a recepção filosófica da psicanálise, concebida como um autêntico e autônomo campo de pesquisa teórica, é uma das fontes às quais as ciências humanas, e entre elas especialmente a psicanálise e a psicologia, podem recorrer para melhor analisar e compreender os impasses teóricos de seus respectivos campos e as soluções possíveis para os seus problemas epistemológicos.

OBJETIVO GERAL:

O objetivo geral deste projeto é realizar uma análise teórica sobre os fundamentos metodológicos relacionados a análise do discurso na análise do comportamento, métodos de pesquisa na análise quantitativa, qualitativa, na análise da linguagem e institucionalização do sujeito e aplicados na discussão do inconsciente.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Promover estudos e investigações especificamente em que serão analisados e descrito exemplos de aplicação dos métodos citados nas pesquisas desenvolvidas na Linha de Pesquisa “Psicologia: Fundamentos teóricos e metodológicos”.

METODOLOGIA:

Como se trata de integrar referenciais e métodos distintos, a metodologia da pesquisa será variada, conforme cada eixo específico do projeto, sem, no entanto, negligenciar a perspectiva de unidade metodológica. Do ponto de vista da execução prática do projeto, cada eixo aplicará seus próprios métodos de investigação científica, garantindo assim o domínio e rigor técnicos sobre os objetos pesquisados. A unidade metodológica será de natureza mais reflexiva e crítica, realizando-se por meio da socialização dos resultados parciais e finais das diferentes pesquisas. A socialização das pesquisas se dará por meio da realização de cursos/disciplinas com professores de diferentes eixos do projeto e por meio da realização de Seminários da linha. Assim, por exemplo, métodos aplicados da análise do discurso na análise do comportamento poderão ser confrontados teoricamente com os métodos de pesquisa na análise quantitativa e qualitativa, que por sua vez poderão interagir desde o ponto de vista crítico da análise teórica com métodos de pesquisa na análise da linguagem e institucionalização do sujeito e com métodos de pesquisa extraídos da discussão sobre o inconsciente.

ANEXO 2:

LINHA 2 (L2) – PROCESSOS PSICOLÓGICOS E SUAS DIMENSÕES SOCIOCULTURAIS

1-    DESCRIÇÃO DA LINHA

1.1-         Ementa e caracterização

A linha 2 – L2 Processos psicológicos e suas dimensões socioculturais foi instituída pela Resolução nº 2, de 16 de janeiro de 2020. Sua ementa tem como foco: Relações entre sociedade, sujeito, cultura, trabalho e as instituições, tendo como pressupostos a ciência psicológica, em seus processos e práticas psicossociais.

A Linha 2 tem como propósito a formação de pesquisadores e pesquisadoras orientada por múltiplos referenciais epistemológicos da Psicologia Social, da Psicologia Escolar e Educacional, do Trabalho e da Saúde, tendo como articulação o diálogo interdisciplinar com correntes de pensamento das ciências sociais, políticas públicas, saúde coletiva e educação, assim como com as agendas dos movimentos sociais, sempre pautando por estudos que levam em conta uma postura crítica sobre a sociedade e suas relações sociais.

Sobre a Psicologia Social, vale destacar a afirmação de Cordeiro e Spink (2018, p. 1072), ao mencionarem que, no Brasil, a psicologia Social se caracteriza como uma “arena de diversidades” e possui inúmeras definições e abordagens teóricas, bem como múltiplos objetos de estudos. No entanto, os estudos na Linha 2 do PPGPSICP/UFMS guardam proximidades em suas investigações ao constituírem um arcabouço de saberes que constituem o que pode caracterizar a “Psicologia Social Crítica” (Cordeiro & Spink, 2028, p. 1072), mas, sem deixar de considerar que esse é um termo polissêmico, como ressaltam as pesquisadoras citadas, “que abriga teorias com posicionamentos epistemológicos, ontológicos e políticos distintos”. Desse modo, os estudos da L2 são marcados pela crítica aos paradigmas que engessam e cerceiam a produção de conhecimento, especialmente, problematizando o paradigma positivista como o único modelo possível para a produção de conhecimento científico.

Nessa direção, as investigações e estudos da L2 se apoiam epistemologicamente nas seguintes abordagens das teóricas que estabelecem relações e interfaces com o pensamento crítico: a teoria Sócio-histórica, Histórico-Cultural, a Teoria das Representações Sociais, o Construcionismo e a Escola de Frankfurt, dentre outras.

A L2/PPGPSI/UFMS dedica-se ao estudo de diversos fenômenos no âmbito da unidade dialética indivíduo-sociedade, buscando desenvolver análises que contemplem a interseccionalidade entre classe, gênero e cor/etnia na conformação dos mesmos.  Ainda que a linha não se organize em torno de uma abordagem teórica-metodológica única, para as investigações dos processos em diferentes espaços de desenvolvimento humano, atividade, socialização e sociabilidade, nesta busca-se articular o corpo docente a partir da delimitação objetos de estudo socialmente relevantes, analisados segundo as categorias propostas pelas diferentes abordagens teórico-metodológicas dos referenciais em Psicologia citados. Dentre os fenômenos, são focados alguns que se expressam como problemas e desafios historicamente constituídos  na sociedade brasileira, envolvendo as relações pessoas/sujeito, cultura, trabalho, economia e instituições, tais como: violências, opressão e marginalização social, exploração, desgastes e adoecimentos a que estão mais expostos determinados grupos sociais e populacionais, como trabalhadores, mulheres, crianças e adolescentes, pessoas idosas, população LGBTQI+, pessoas com deficiências, sofrimento psíquico, doenças crônicas, entre outros. Priorizam-se pesquisas e estudos que contribuam para o avanço da ciência psicológica e do exercício profissional comprometidos com a proteção desses grupos frente aos fenômenos citados, com a promoção de autonomia, redução das desigualdades sociais e com a busca do bem-estar individual e social.

1.2-         Corpo Docente

1-      Profº Dr Alberto Mesaque Martins

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4960336011673287

2-      Profª. Dra. Alexandra Ayach Anache

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4480521042611530

3-      Profª Dra Branca Maria de Meneses

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1759419019088972

4-      Profª Dra Jacy Correa Curado

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/0669496180947551

https://orcid.org/0000-0002-7824-0499

5-      Profª Dra Marilda Gonçalves Dias Facci

Lattes CV: http://lattes.cnpq.br/2222738235813129

6-      Profa. Dra. Renata Bellenzani

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5545222663436009

7-  Sandra Fogaça Rosa Ribeiro

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/0593934187852891

8-      Profa. Dra. Sonia da Cunha Urt

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5545222663436009

9-      Profa. Dra. Zaira de Andrade Lopes

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7872582724663795

1.3-         OBJETIVOS DA LINHA

Assim os objetivos da linha são:

1.3.1 Objetivo geral

Produzir conhecimentos nos contextos da Psicologia Social, Psicologia Escolar e Educacional, do Trabalho e da Saúde, sobre processos psicológicos/psicossociais e suas dimensões socioculturais.

1.3.2- Objetivos específicos

Promover estudos e investigações

a.                 acerca dos processos de produção da subjetividade e práticas sociais em contextos da vida cotidiana e institucionais na sociedade contemporânea;

b.                 no campo da saúde coletiva, dos processos de promoção da saúde física e mental e dos sofrimentos psíquicos;

c.                 no campo do desenvolvimento humano, de coletividades/comunidades, e da educação;

d.                 acerca dos processos sociais que implicam no enfrentamento às violências e às desigualdades sociais, às relações desiguais e hierarquizadas de poder nas relações de classe, gênero, gerações e étnico-raciais;

2-    ESTUDOS DESENVOLVIDOS

Os temas contemplados nas investigações da linha consideram a constituição das múltiplas relações sociais e são os seguintes:

1. Processos educativos, subjetividades e Psicologia;

2. Psicologia escolar e educacional.

2.1 Avaliação Psicológica na perspectiva histórico-cultural e suas contribuições para a aprendizagem.

2.2 Educação Especial e processos de aprendizagens.

3. Violências, preconceito, discriminação e bullying nas diferentes instituições;

4. Formação do indivíduo, relações afetivas e trabalho;

5. Estudos de gênero, sexualidade, diversidade e as desigualdades sociais;

6. Estudos feministas e estudos das interseccionalidades

7. O valor heurístico da Teoria da Subjetividade na perspectiva cultural histórica para as pesquisas de pessoas com desenvolvimento atípico.

8. Psicologia da Saúde e processos de saúde, adoecimento e cuidado.

9. Determinação social da saúde mental e do sofrimento psíquico. Atenção psicossocial no SUS

10. Saúde Mental, Trabalho e Gestão em diferentes instituições

A linha 2 desenvolve os estudos e investigação orientados por uma perspectiva de reflexão crítica sobre as diferentes dimensões da ciência psicológica e múltiplas relações que constitui a sociedade, considerando a diversidade humana, a interdisciplinaridade e as interseccionalidades, pautando-se no compromisso ético e político na produção do conhecimento científico.

O desenvolvimento dos estudos e investigações na linha 2 primam por desenvolver espaços e momentos de reflexões teórico-metodológicas que qualifiquem os/as pós-graduandos/as do PPGPsic/UFMS como pesquisadores/as de excelência para atuarem efetivamente nos contextos sociais institucionais ou não institucionalizados.

 As pesquisas desenvolvidas na linha partem dos fundamentos da pesquisa social e, predominantemente, aquelas que envolvem procedimentos metodológicos qualitativos, sem, contudo, deixar de atentar para o panorama social que requer bases e indicadores estatísticos para a compreensão dos fenômenos psicossociais e dos processos psicológicos e suas dimensões socioculturais. Conforme Minayo, Deslandes e Gomes (2016) a pesquisa qualitativa se preocupa em responder questões particulares e se “ocupa, dentro das Ciências Sociais, com o universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (p. 20).

O corpo docente da L2 entende os fenômenos humanos, em seu conjunto, como parte da realidade social, uma vez que o ser humano tem, entre suas características, a capacidade de “pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada […].” (Minayo, Deslandes e Gomes( 2016, p. 20).

A linha entende que a pesquisa social busca encontrar respostas aos desafios que se apresentam na realidade social constituída objetivamente por processos de subjetivação. Dar conta de tais desafios implica em promover o desenvolvimento humano e a melhoria das suas condições de vida, do trabalho, dos processos educativos, da saúde, lazer, dentre os aspectos voltados para o respeito, à dignidade humana e à cidadania de todas as pessoas.

Tomamos como referência a compreensão de Minayo, Deslandes e Gomes (2016) que entendem a metodologia como sendo o caminho realizado pelo pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade, e que inclui simultaneamente, a teoria da abordagem, ou seja, o método, os instrumentos de operacionalização do conhecimento, (constituindo as técnicas), sem deixar de mencionar a criatividade de quem está pesquisando e empregando toda a experiência, capacidade crÍtica, bem como a sua sensibilidade.

Desse modo, considerando a pluralidade de abordagens de perspectivas críticas e bases metodológicas que envolvem a produção de conhecimento no campo da ciência psicológica, a linha 2 “processos psicológicos e suas dimensões socioculturais”, conta, nesse quadriênio, com as seguintes investigações em andamento, configurando os seguintes temas e processos metodológicos, os quais orbitam em torno de estudos e pesquisa que visam contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva, superando as desigualdades sociais.

A linha abre perspectivas de estudos e pesquisas para avançar na produção teórica e metodológica que visam a inclusão social.

Os estudos realizados pelo corpo docente da L2 se organizam em 3 eixos temáticos apresentados na sequência:

I.              Estudos interseccionais e de gênero e a desigualdade social

1. Políticas Públicas e representações sociais sobre o saber, o lugar e o fazer da Psicologia nos enfrentamentos à desigualdade social e à violência, sob a coordenação da Profa. Dra. Zaira de Andrade Lopes. A pesquisa considera que a Psicologia é a ciência que tem como objeto de estudo o ser humano em todas as suas dimensões e inter-relações. Nesse sentido, o campo das políticas públicas se apresenta como uma área significativa para contribuição com os estudos dessa ciência. A área de política pública é um campo em ascensão para a psicologia, tornando imprescindível refletirmos sobre as práticas psicológicas realizadas nos sistemas únicos da assistência social e da saúde (SUAS e SUS) com vistas a propor ações qualificadas e que possam promover o desenvolvimento integral do ser humano e consequentemente da sociedade, bem como a promoção dos Direitos Humanos e enfrentamento às desigualdades sociais. Desse modo, a pesquisa tem como finalidade conhecer, descrever e analisar a inserção da psicologia no Sistema Único de Saúde – SUS e Sistema Único de Assistência Social – SUAS e as implicações para a práxis psicológica, fundamentado na Teoria das Representações Sociais – TRS. O objetivo geral é analisar as representações sociais que orientam a formação e prática de profissionais da psicologia no campo das políticas públicas de proteção e seguridade social, especificamente no âmbito dos sistemas das políticas de assistência social (SUAS) e da saúde (SUS) com foco na perspectiva da promoção dos Direitos Humanos, enfrentamento às desigualdades sociais e à violência. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa para compreender os processos cognitivos que compõem o pensamento humano e seu entendimento sobre a sociedade. Para a compreensão desse ser humano e suas relações sociais buscou se elementos teóricos da abordagem Histórico Cultural da Psicologia que se aproximam da TRS. A população que fará parte do estudo são profissionais psicólogas/os, gestores/as, que atuam no âmbito do SUS e SUAS, no município de Campo Grande- MS, bem como a população que utiliza os serviços resultantes das políticas públicas. Para a produção dos dados para análise serão utilizados levantamento de documentos e estudos sobre a inserção de profissionais da psicologia nos serviços, realização de entrevistas com profissionais, gestores/as do âmbito do SUS e SUAS e usuários que aceitarem fazer parte da pesquisa por meio de assinatura do TECLE, e técnicas de grupos com equipes dos serviços e moradores de comunidade que compõem os territórios abrangidos pelos serviços das políticas sociais e da saúde. Os resultados poderão contribuir para a compreensão do fazer da ciência psicológica no SUS e SUAS.

2 A pesquisa “O Ciclo de Vida das “Mulheres” em uma abordagem Psicossocial e Interseccional”, sob coordenação da Professora Dra. Jacy Corrêa Curado busca apresentar novas versões das fases de adolescência, vida adulta e velhice das mulheres, nos aspectos da menstruação, reprodução e menopausa em diferentes contextos socioculturais como, os de classe social, gênero, raça, etnia, idade entre outros. O delineamento metodológico da pesquisa será pautado pelo método qualitativo, orientado por abordagens teórico-metodológicas da Psicologia Social e alinhados à perspectiva do Construcionismo Social (Gergen & Gergen, 2010; Spink, 2013; Rasera, 2005), das Práticas Discursivas e Produção de Sentidos no Cotidiano de Spink (2010) em diálogo com os estudos da mulher e de gênero. A partir de leituras de uma diversidade de documentos de domínios públicos iremos apresentar novas versões dessas fases de vida das mulheres que se aproximem mais com os contextos socioculturais brasileiros e regionais. Na abordagem sócioconstrucionista consideramos que as versões que circulam não são meros instrumentos para acessar a realidade, mas podem construir realidades e narrativas possíveis sobre fatos psicossociais. O uso de documentos de domínio público compreende uma busca focalizada e especializada em diversos materiais acadêmicos ou não, em que se destaca novos temas, fontes e objetos que diversificam as possibilidades e as potencialidades do fazer pesquisa em geral, particularmente no campo da Psicologia Social. A Análise dos documentos de domínio público, será realizada por meio de múltiplos métodos de Análise de Discurso (AD) de acordo com a necessidade, experiência e conhecimento nas áreas dos analistas sociais. Para que se alcance os objetivos da investigação usaremos diversas fontes de pesquisa como literatura, legislação, periódicos, livros, filmes, vídeos, matérias de jornais, revistas, novelas etc. O que se espera como resultado é conferir um olhar psicossocial e interseccional sobre os materiais analisados, trazendo novas questões, problemas e perspectivas de conhecimento sobre o ciclo de vida das mulheres que se distanciem das abordagens individualizantes, euro-centradas e universalizantes, comuns à psicologia tradicional e hegemônica.

3. Construção social de masculinidades e suas implicações na produção de morbimortalidade por causas externas entre homens adolescentes e jovens de Campo Grande, coordenado pelo Professor Dr. Alberto Mesaque Martins

Nas últimas décadas, estudos vêm apontando para a necessidade de se considerar as implicações psicossociais nas análises de adoecimento e mortalidade da população masculina. Diversos estudos vêm chamando a atenção para a existência de barreiras culturais e institucionais que, muitas vezes, inviabilizam a vinculação dos homens aos serviços de saúde e às práticas de autocuidado. Nessa perspectiva, é preciso considerar as implicações dos modos como, ainda hoje, os homens são socializados, os quais refletem os diferentes sentidos culturalmente atribuídos e difundidos acerca do ser um “homem de verdade”. Assim, em uma sociedade machista e patriarcal, como a brasileira, os homens ainda são percebidos como hierarquicamente superiores às mulheres e supostamente dotados de uma natureza viril, onde a força física, a coragem e o sentimento de invulnerabilidade se mostram como atributos biológicos essenciais e permanentes desses sujeitos. A construção social do modelo de masculinidade hegemônica parece contribuir para a configuração do estado de saúde desse grupo específico, uma vez que, no Brasil, as causas externas, especialmente os homicídios, os acidentes de trânsito e os suicídios configuram-se como a principal causa de adoecimento, internação e morte, comprometendo o bem-estar e a qualidade de vida, além de reduzir a expectativa de vida de muitos homens. Esse número torna-se ainda mais expressivo ao se considerar os homens adolescentes e jovens, de modo que as causas externas se configuram como a principal causa de adoecimento e morte dos homens dessa faixa etária, em Campo GrandeMS. Na perspectiva dos estudos de gênero essa investigação tem como objetivo principal, discutir as implicações de gênero e do processo de construção social das masculinidades, na produção de morbimortalidade por causas externas entre homens adolescentes e jovens na cidade de Campo Grande – MS. Para tanto, a pesquisa está organizada em quatro etapas: a) caracterização das mortes masculinas por causas externas no município de Campo Grande-MS; b) análise das mortes masculinas por causas externas divulgadas na mídia campo-grandense; c) concepções de homens adolescentes e jovens, residentes em Campo Grande-MS, acerca da construção social das masculinidades e suas implicações na morbimortalidade por causas externas e; d) concepções de profissionais de saúde acerca desse mesmo fenômeno e também dos desafios e possibilidades da assistência em saúde voltada para esse público. Ao final da pesquisa, espera-se ser possível construir elementos que contribuam para o desenvolvimento de políticas, programas e ações em saúde voltados para a prevenção de causas externas entre a população masculina de adolescentes e jovens do município de Campo Grande.

II.            Determinação social da saúde mental e do sofrimento psíquico e a atenção psicossocial no Sistema Único de Saúde.

1 Aportes teórico-metodológicos para uma Psicologia Histórico-Cultural em Saúde (Mental) Coletiva, coordenado pela Profa. Dra. Renata Bellenzani estuda as áreas de saberes e práticas denominadas ‘Psicologia em Saúde Mental’ ou ‘Psicologia na Atenção Básica’. Terminologias relativamente recentes no Brasil – ganham impulso após o início dos movimentos nacionais da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica. Neste cenário de reconfiguração dos modelos de cuidado para dar conta da complexidade do processo saúde-doença e sua determinação social (Laurell,1981, 1983; Breilh,1979; Donnangelo 1976, 1979) a Psicologia é convocada a contribuir com o campo da Saúde Coletiva e, também, interpelada quanto ao alcance, para isso, de seus fundamentos e escolas. Assim, o objetivo geral do projeto é além de aglutinar pesquisas de mestrandos com enfoques teórico ou empírico, também, desenvolver estudos teóricos a partir do levantamento e da análise da produção existente até o atual momento que se encontra dispersa em diferentes áreas do conhecimento tais como História, Serviço Social, Sociologia e Economia (da Saúde), Psicologia Social, Psicologia Histórico-cultural, Psicologia da Saúde, Psicologia Clínica, Psicologia do Desenvolvimento Humano, Políticas Públicas, Medicina Social/Saúde Coletiva e Psiquiatria. Almeja-se produzir sistematizações de formulações, fundamentos e aportes teórico-práticos interdisciplinares para a práxis de Psicologia em Saúde Mental, segundo o enfoque Histórico-Cultural (tendo Vigotski, Luria e Leontiev como principais) e a teoria social de Marx (já incorporada à Sociologia da Saúde e à Psicologia Sócio-Histórica brasileiras). Justificam-se os estudos teóricos pela necessidade de melhor analisar em que medida os constructos destas vertentes podem auxiliar nas análises e na produção de explicações acerca dos fenômenos psicológicos (ligados ao sofrimento) implicados nos fenômenos sociossanitários – significativamente influenciados pela estrutura social capitalista. Os estudos de campo se justificam pelo esforço em produzir análises de trajetórias individuais, de coletividades, das práticas de cuidado e modelos de atenção em saúde mental a fim de subsidiar políticas públicas.

2 Gestão no SUS: Impactos da Nova Política de Atenção Básica em Saúde, coordenado pela Professora Dra. Sandra Fogaça Rosa Ribeiro e se propõe a pesquisar em um  contexto de cortes de verbas e financiamento de diversas políticas públicas, ocorridas no ano de 2016, uma Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi publicada, a de número 2.436 de 21 de setembro de 2017 que por ser a última, será tratada neste projeto como nova PNAB, mesmo que tenha sido promulgada há três anos. Esta pesquisa pretende examinar o documento, utilizando lentes teóricas que possibilitem vislumbrar possíveis repercussões provenientes do contexto macro econômico, social e político, que porventura tenham influenciado os sentidos e significados da nova PNAB, principalmente no que se refere às formas de gerenciamento. O objetivo é fazer uma análise da nova portaria da Atenção Básica (PNAB, 2017) no que se refere a gestão, frente a possíveis contradições do contexto econômico neoliberal. A metodologia será numa abordagem qualitativa, uma pesquisa documental. A expectativa é que este projeto colabore para uma reflexão acerca da gestão participativa na Atenção Básica, por meio de publicações dos resultados da pesquisa no formato de artigo científico e participação em eventos presenciais e virtuais (lives).

III.          Psicologia e processos educacionais: enfrentamentos das formas de exclusão

1.              Bullying e Preconceito: Distinções e relações, coordenado pela Profa. Dra. Branca Maria de Meneses, propõe, a partir de literatura especializada da área de estudos sobre bullying e preconceito, de análises de obras dos pensadores da Escola de Frankfurt e dos resultados que estão sendo obtidos na pesquisa que ora está sendo concluída, com bolsa do CNPq, os objetivos deste projeto são: distinguir duas formas de violência escolar – o bullying e o preconceito – e relacioná-las com distintos tipos de personalidade. Para isso, são propostos dois estudos. O objetivo de um deles é examinar duas obras dos frankfurtianos referentes à violência social. Elementos do Antissemitismo, de Horkheimer e Adorno, e alguns capítulos de The Authoritarian Personality, de Adorno et al., quanto à delimitação de distintas formas de violência subjacentes ao fenômeno estudado por eles – o autoritarismo. Tem-se como hipótese que os autores de ambas as obras não discriminam o preconceito de um tipo de violência que está subjacente ao que hoje nomeamos de bullying, e que a descrição que fazem caracteriza mais esse último tipo de violência do que o preconceito. Os conteúdos dos trechos examinados e classificados como bullying e/ou como preconceito, as hipóteses poderão ser testadas, o que contribuirá para a compreensão das distinções e das relações entre ambos os fenômenos. O segundo estudo, de caráter empírico, utilizará escalas que mensuram o sadomasoquismo (Escala F), características de personalidade narcisista (Escala N), a manifestação de preconceitos (Escala P); a caracterização de autor e alvo do bullying (Escala A e Escala B); a prática do bullying (Escala AB). Essas escalas serão aplicadas a 450 estudantes de cursos superiores de universidades públicas paulistas; a aplicação em dois terços dessa amostra será para o aperfeiçoamento das escalas, e os dados dos restantes 150 participantes serão para a testagem das hipóteses, que supõem que bullying e preconceito têm relação significante, mas de baixa magnitude, e que a manifestação de preconceito está mais associada com características de personalidade sadomasoquista, a autoria do bullying mais relacionada com características de personalidade narcisista, e o que sofre o bullying com nenhum tipo das características de personalidade avaliadas.

2 Saúde mental e Bem-Estar de Comunidades universitárias durante e pós-pandemia e Regime de Distanciamento Social, Ensino Remotamente Dirigido e Teletrabalho decorrentes da pandemia de COVID-19: estudos seriados e ações de extensão, coordenado pelo Prof. Dr. Alberto Mesaque Martins, visa estudar os efeitos do distanciamento social com ensino remotamente dirigido (ERD) e teletrabalho decorrentes da pandemia de SARS-CoV-2 na saúde mental de comunidades universitárias de instituições de ensino superior do Centro-Oeste brasileiro e oferecer suporte psicossocial aos estudantes e servidores durante a após a pandemia de SARS-CoV-2. Este projeto é interdisciplinar e atende às exigências e necessidades da sociedade, contando com a colaboração de duas professoras desta Linha de pesquisa, a saber: Profa. Dra. Alexandra Ayach Anache e Profa. Dra. Zaira de Andrade Lopes.

 3. O Sofrimento/adoecimento de estudantes da pós-graduação em psicologia: a unidade afetivo-cognitiva, coordenado pela Professora. Dra Marilda Gonçalves Dias Facci, com a participação da Professora Sônia da Cunha Urt, considera que as pesquisas demonstram que muitos estudantes têm adoecido na formação universitária. No entanto, ainda são escassos estudos com alunos de pós-graduação. Influenciadas pela lógica capitalista, as cobranças realizadas nesse nível de ensino têm causado depressão, ansiedade e desconforto, o que impacta a produção e o desenvolvimento dos projetos de pesquisa e a constituição da subjetividade dos pós-graduandos. Tal problemática demanda da Psicologia uma compreensão sobre esse fato. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa é identificar a existência, as causas e as consequências do sofrimento/adoecimento dos estudantes da pós-graduação stricto sensu na área de Psicologia, tomando como referência os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural. A metodologia utilizada é a pesquisa de campo, por meio da aplicação de questionários e a realização das entrevistas. Participarão do estudo discentes e coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia do Brasil, em cursos de mestrados e doutorados acadêmicos. Com a realização desse estudo a pretende-se destacar a unidade afetivo-cognitiva que permeia o processo de formação e apresentar subsídios para que Programas de Pós-Graduação em Psicologia possam conduzir as atividades trabalhando em prol da saúde mental dos discentes.

4. Na perspectiva de integração e rompendo as fronteiras as professoras Jaqueline Daniela Basso (Responsável pelo Projeto) e Sônia da Cunha Urt,  representante do PPGPSICO estudam os impactos sociais em comunidades locais dos territórios integrantes do corredor rodoviário bioceânico rota Porto Murtinho: Portos do Norte do Chile. Portanto o projeto objetiva consolidar a Rede Universitária, a partir do trabalho integrado entre os diversos pesquisadores brasileiros, possibilitando maior intercâmbio de conhecimentos entre as universidades dos quatro países alcançados pelo Corredor Bioceânico- Rota Porto Murtinho- Portos Norte do Chile. A partir dos resultados da pesquisa, subsidiar projetos de extensão em parceria com entidades públicas do Município de Porto Murtinho que respondam às necessidades locais, tais como cursos de formação docente e da comunidade, ações junto às comunidades indígenas e outras que venham a ser identificadas ao longo do processo de pesquisa. Contribuir para a construção de novas políticas públicas, direcionadas às populações destituídas de seus direitos fundamentais que se situam ao longo do Corredor Bioceânico. Do ponto de vista técnico-científico, socioeconômico, ambiental, da difusão e de inovação, subsidiar a construção de estratégias, etnicamente diferenciadas, para atender às distintas populações vulneráveis que habitam ao longo do corredor bioceânico. Destacar e a valorizar a riqueza e diversidade cultural da região de fronteira entre os municípios de Porto Murtinho (Brasil) e Carmelo Peralta (Paraguai).

 5. Os estudos sobre os processos de aprendizagem de estudantes com necessidade educativas específicas: desafios para a formação profissional, coordenado pela Professora Dra.  Alexandra Ayach Anache depreendem das experiências acumuladas em pesquisas e em atividades de extensão universitária junto aos estudantes que apresentam necessidades educacionais específicas, como é o caso daqueles diagnosticados com dificuldades de aprendizagens, com deficiências, com altas habilidades/superdotação ou ainda, alunos que, em decorrência de sua condição étnico racial, enfrentam dificuldades de aprendizagem em seu processo de escolarização. Nos últimos anos, nos dedicamos a estudar os processos avaliativos para fins de identificação e triagem do público da Educação Especial, com ênfase no método empregado e as dimensões subjetivas na elaboração dos relatórios e orientações dos encaminhamentos realizados e seus desdobramentos no âmbito Educacional (Em todos eles, foram identificadas fragilidades em nas explicações sobre a dinâmica da aprendizagem dos estudantes que apresentaram queixas escolares, sobretudo quanto ao domínio da leitura, da escrita e de conceitos matemáticos. Outra linha de trabalhos que resultaram dos encaminhamentos dos referidos estudantes das escolas de ensino fundamental e médio, apontaram para as dificuldades metodológicas para proporcionar-lhes condições de aprendizagens. Estes estudos mostraram que há vários aspectos que merecem atenção, dentre os quais destacaram-se a organização do trabalho pedagógico, o qual deverá ser projetado e executado de forma colaborativa, envolvendo os professores da Educação Comum e da Educação Especial, favorecendo com isso uma dinâmica acolhedora e inclusiva, onde o respeito à diversidade, norteando as ações e as relações pedagógicas. Compreender as condições, identificar as características de aprendizagem, de comunicação desses estudantes e produzir ou adequar o tipo de material a ser utilizado com ele, analisar o nível de autonomia considerando os aspectos criativos utilizados para superar e enfrentar as suas dificuldades. É possível identificarmos as preferências, os interesses, e, com isso planejarmos os métodos mais adequados para construirmos junto com a família da criança, possibilidades de aprendizagens de conhecimentos e de habilidades a serem trabalhadas no percurso acadêmico. Para este fim, o objetivo desta pesquisa é Desenvolver e sistematizar tecnologias educacionais junto aos estudantes que apresentam dificuldades na aprendizagem escolar na perspectiva cultural–histórica. Esta concepção epistemológica se caracteriza pela articulação de três princípios fundamentais: o caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, o caráter dialógico do processo de construção do conhecimento, a singularidade como instância legítima de produção do conhecimento científico. A metodologia desta pesquisa está ancorada nos princípios da Epistemologia Qualitativa para o estudo das dimensões subjetivas implicadas no processo de aprender dos participantes da pesquisa. Para González Rey e Martínez Mitjáns (2017), o que requer explicações que avancem para além do modelo descritivo, considerando as configurações subjetivas dos participantes da pesquisa. Os três princípios da referida abordagem são: 1) O caráter construtivo-interpretativo; 2) o caráter dialógico do processo de construção do conhecimento; 2) a singularidade como instância legítima de produção do conhecimento científico. Como resultado deste trabalho vislumbra-se a construção e sistematização de tecnologias sociais para o enfrentamento das dificuldades no processo de aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais específicas.

6. As professoras Marilda Gonçalves Dias Facci, Alexandra Ayach Anache e Sonia da Cunha Urt, participam do projeto intitulado Ensino remoto e formação do psicólogo no Brasil sob a perspectiva de docentes e de discentes. A pesquisa visa investigar e analisar os efeitos do ensino remoto na formação do psicólogo brasileiro. Na contramão da ênfase dada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de Psicologia (Brasil, 2004) à presencialidade da mediação pedagógica, entendida como muito importante para o desenvolvimento das competências e habilidades almejadas na formação dos psicólogos, a adoção da modalidade remota é decorrência das urgentes transformações por que teve que passar o sistema de ensino brasileiro, nos diferentes níveis, em consequência da pandemia do COVID-19. Assim, sob o ponto de vista do professor e do estudante de universidades públicas e privadas de psicologia, de diferentes regiões do Brasil, o estudo procura apreender os efeitos do ensino remoto no sentido de legislação específica nacional, estadual e municipal; de diretrizes também específicas nas universidades, seja de ordem geral, seja nos cursos de psicologia; sobre as relações de trabalho do professor, sobre o processo ensino-aprendizagem, sobre a relação do estudante com a instituição, o número de trancamento de matrículas, o desempenho acadêmico/aproveitamento de disciplinas. Trata-se de estudo qualitativo e quantitativo, de teor descritivo e explicativo, que contempla aspectos teóricos e empíricos. As informações estão sendo coletadas em cinco regiões do país, a saber: Região Norte, Região Nordeste, Região Centro-Oeste, Região Sudeste e Região Sul. A obtenção das respostas ao questionário de estudantes de uma turma dos segundo e último períodos do curso e dos seus professores será feita via internet. A análise das informações coletadas será norteada pela psicologia histórico-cultural e pelo método do materialismo histórico-dialético. Espera-se que os resultados contribuam para que a formação de profissionais da Psicologia, fornecendo para a qualificação dos processos institucionais relativos aos cursos de psicologia das instituições parceiras na pesquisa.

Alexandra Ayach Anache

Presidente

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